EU TAMBEM QUERO SER VEREADOR...

            Eu também sou candidato a vereador. Nada mais justo. Primeiro eu não pretendo fazer coisa alguma pela cidade, pela população, pelas famílias. Um vereador que quisesse fazer alguma coisa dessas ver-se-ia sem saída, pois teria com certeza, oito ou mais votos contra, vindo de seus nobres colegas, ou ficaria para a próxima sessão, para a próxima, para a próxima e para a próxima, e assim eternamente.

            Contra suas idéias levantar-se-iam mais oito colegas do mais profundo bom senso. Assim para poder fazer alguma coisa útil, não farei coisa alguma, a não ser receber o meu suado salário, suado não por que trabalho, mas porque o ar condicionado de minha casa está com defeito.

            Eis aí o que vai consistir o máximo de minha candidatura ou ação legislativa, caso o meu eleitorado, nas eleições, digite meu número e aperte confirmar: recebendo meus R$ 3.000,00 mensais, darei muito mais conforto a minha mulher e aos meus filhos, ficarei mais generosos ao pagar cerveja a meus amigos. Pensem comigo, desde que minha mulher e filhos passem melhor de cama, mesa e roupa, os cidadãos rio bonitense também ganham, ganham porque, sendo eles parcelas do município, a sua vida melhorando, essa melhoria reflete sobre o todo de que fazer parte.

            Concordarão os nossos eleitores e prováveis eleitores, que o meu propósito é lógico e as razões apontadas para justificar a minha candidatura são bastante razoáveis. De resto acrescento que nada sei da história social, política e intelectual do município, do Paraná e muito menos do país, que nada sei da geografia, que nada entendo de ciências sociais e próximas, para que o nobre eleitorado veja bem que vou dar um excelente vereador.

            Há ainda um poderoso motivo, que na minha consciência, pesa para dar este cansado passe de vir solicitar dos meus compatriotas atenção para o meu obscuro nome.

            Ando mais ou menos bem vestido e tenho uma grande vocação para elegância. O salário, meus senhores, viria dar-me elemento para realizar essa velha aspiração de tornar-me igual a certas pessoas elegantes que vejo “zanzar” pela cidade.

            Confesso também que quando passo por algumas ruas a noite, a minha modesta vagabundagem é atraída por algumas mulheres que por lá trafegam, mas que não prestam atenção em mim, pois ando sem dinheiro e a pé.

            Tal visão é por demais tentadora para minha imaginação, e eu desejo ser vereador para gozar esse paraíso com mais facilidade, mesmo sendo casado, pois com meu ordenado tudo serei capaz.

            Razões tão justas, creio, até agora nenhum candidato apresentou, e espero da clarividência dos homens de boa vontade, livres e orientados, a eleição do meu humilde nome, para ocupar uma cadeira de vereador, por qualquer localidade, porque, nesse ponto não faço questão alguma.

            Ás urnas meu povo e Deus os abençoes (principalmente a mim)